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Extorsão e propina: acusações põem CPI das Apostas à beira de um escândalo

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A Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga os sites de apostas ouvia o representante de uma empresa, no dia 3 de dezembro, quando começou um bate-boca entre os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Soraya Thronicke. Relatora da CPI, a parlamentar disse, durante a audiência, que convocaria o “governo Bolsonaro” para saber por que o setor não havia sido regulamentado na gestão do ex-presidente.

Ciro era o ministro-chefe da Casa Civil. Os ânimos se exaltaram: “Dá para a senhora me explicar por que chamar o governo Bolsonaro?”, indagou o senador. “O governo Bolsonaro tinha dois anos para regulamentar, mas não fez”, justificou Thronicke. “A senhora acha que isso vai ter algum ganho para o país, senadora?”

“Debruce-se sobre a legislação para entender.” “A senhora não é professora de ninguém.” “Daqui a pouco é a senhora que vai ter que prestar muitas explicações aqui”. Parecia mais um duelo verbal entre dois parlamentares com diferentes pontos de vista. ais um duelo verbal entre dois parlamentares com diferentes pontos de vista. Mas o caso evoluiu e ganhou cores de escândalo.

Depois da discussão, Ciro Nogueira procurou o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para informá-lo sobre algo “muito grave” que estava se passando nos bastidores da comissão. Ele relatou que um conhecido lobista de Brasília estaria extorquindo empresários ligados ao setor de apostas.

E mais: existiria uma parceria entre esse lobista e membros da CPI. O esquema replicaria um método criminoso bastante conhecido: parlamentares, não necessariamente envolvidos com o achaque, apresentam requerimentos convocando representantes de empresas para prestar depoimento. Ato contínuo, o lobista bate à porta da empresa, diz que tem acesso e influência sobre determinados congressistas e pede uma quantia em dinheiro para reverter a convocação.

Na conversa com Pacheco, o senador informou que o esquema já está sendo investigado pela Polícia Federal desde que um empresário do ramo confirmou ter sido abordado pelo tal lobista, que teria exigido dele 40 milhões de reais.

O presidente do Congresso na época ouviu o relato com preocupação. Ciro Nogueira, que estava acompanhado do senador Rogério Carvalho (PT-SE), contou que a vítima do achaque é dono de um site de apostas e foi alertado de que seria convocado a depor na CPI. Na sequência, o lobista se apresentou, disse que tinha como evitar o “constrangimento”, mas que isso teria um “custo”.

O empresário se recusou a pagar. Não tardou e o requerimento de convocação foi aprovado. Ciro não acusou diretamente Soraya Thronicke de envolvimento com o suposto esquema. O senador, no entanto, lembrou que a relatora da comissão, a quem cabe coordenar e supervisionar a investigação, não só conhece como mantém uma relação de proximidade com o lobista que teria tentado extorquir o empresário. Procurado, Ciro não quis se manifestar. Disse apenas que a denúncia chegou a seu conhecimento e que tomou “as providências cabíveis”. O senador petista que acompanhou Ciro confirmou o encontro com Pacheco, mas também não quis comentar o caso.

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Soraya Thronicke rebateu as insinuações, confirmou que conhece o lobista e afirmou que realmente há fortes indícios de que algo grave se passa nos bastidores da CPI — mas não em relação a ela.

A senadora conta que ouviu uma mensagem de áudio enviada a um empresário convocado para depor em que um senador pedia 100 milhões de reais para “resolver o assunto com a Soraya”. Thronicke, no entanto, não revelou a identidade do colega criminoso e nem do empresário abordado, mas garantiu que encaminhou a denúncia à Polícia Federal.

As duas histórias de extorsão são graves e precisam ser esclarecidas. A CPI das Apostas foi instalada em novembro e tem prazo de cinco meses para concluir os trabalhos.

Após retomar as atividades no dia 11 de março com depoimento do secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, a CPI das Bets ouve mais dois depoentes nesta semana. Para terça-feira (18), às 11h, está convocada a advogada Adélia de Jesus Soares, proprietária da Payflow Processadora de Pagamentos Ltda.

A convocação se deu a partir de requerimento da relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS). A parlamentar argumenta que advogada e empresária deve prestar esclarecimentos sobre seu indiciamento, pela Polícia Civil do Distrito Federal, pelos crimes de falsidade ideológica e associação criminosa.

“As investigações indicam que a referida advogada teria colaborado com uma organização estrangeira para estruturar e operar ilegalmente jogos de azar no território nacional, utilizando a empresa Playflow como fachada. Conforme apurado, a Playflow teria sido instrumentalizada para movimentações financeiras irregulares, com indícios de lavagem de dinheiro e transações realizadas em desacordo com as normas do Banco Central, mediante o uso de documentos inidôneos e mecanismos fraudulentos”, justifica a senadora.

De acordo com Soraya, a empresa é apontada como vinculada a outra sociedade sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, o que evidencia possível internacionalização das práticas ilícitas investigadas.

Ludopatia

Já para nesta quinta-feira (20), às 11h, foi convidado a falar o empresário e ex-apostador André Holanda Rodrigues Rolim. Conforme requerimento apresentado pelo presidente da CPI, senador Dr. Hiran (PP-RR), Rolim seria um ludopata (viciado em jogos) em recuperação. Ele deve dar seu testemunho de ex-apostador e falará sobre os riscos que as apostas podem trazer para a saúde mental e financeira das pessoas.

“A ludopatia, ou jogo patológico, representa crescente perigo no contexto das apostas esportivas, especialmente com a facilidade de acesso às plataformas on-line. Essa condição, reconhecida como um transtorno mental, pode levar a consequências devastadoras para a vida do indivíduo e seus familiares”, justifica Dr. Hiran.

Para o senador, a falta de mecanismos eficazes de proteção aos consumidores — incluindo a implementação de limites para apostas, a promoção de campanhas de conscientização sobre os riscos do jogo e a oferta de suporte e tratamento aos indivíduos viciados em jogo — fazem com que cresça a dependência em jogos de azar on-line.

com informações de Veja

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